Como ações afirmativas podem gerar alto impacto nas empresas

Nos últimos tempos, adaptações e mudanças têm se tornado cada vez mais necessárias, e até urgentes em alguns casos; seja para acompanhar os avanços tecnológicos, responder às questões de sustentabilidade ou fazer frente à concorrência. Nesse contexto, é imperativo abordar pautas que fazem a diferença na vida dos colaboradores de sua empresa, de modo que você possa ajudar sua equipe a ter sucesso dentro e fora do trabalho. Uma tendência que tem ganhado mais espaço nesse sentido são as ações afirmativas como parte da responsabilidade social corporativa. 

É fato que lidamos com um mercado de trabalho ainda estruturalmente desigual. Por mais que diversos avanços e melhorias tenham sido alcançados em múltiplas frentes, ainda há muito a ser feito. A promoção de ações afirmativas se propõe como um grande compromisso social, ao operar mudanças justas que geram equidade e representam um posicionamento empresarial consciente, inclusivo e de alto impacto.

Saiba, a seguir, o que são ações afirmativas e por que importam no mundo corporativo, veja exemplos e confira dicas e recomendações para implementá-las em sua empresa.

O que são ações afirmativas?

Ações afirmativas são políticas e medidas focais que dedicam recursos para incentivar a participação de pessoas de grupos minoritários ou vitimizados em processos de acesso ao trabalho e à educação. As ações afirmativas têm o objetivo de combater discriminações étnicas, religiosas, de gênero, de classe ou de casta, e as desigualdades estruturais. São ações que podem ser implementadas tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada.

No mundo corporativo, essas iniciativas podem ajudar a aprimorar a cultura organizacional e beneficiar os colaboradores, oferecendo oportunidades igualitárias a candidatos e colaboradores, ao considerar a diversidade, a pluralidade cultural e a realidade socioeconômica em que as pessoas estão inseridas. É uma maneira de reconhecer e valorizar a singularidade de cada indivíduo para enriquecer o bem coletivo, e assim tornar o ambiente empresarial um lugar acolhedor, inclusivo e com maior nível de equidade.

A importância das ações afirmativas para as empresas

De acordo com estudos recentes, apenas 15% das empresas brasileiras estabeleceram metas para reduzir as desigualdades salariais entre colaboradores de cor branca e negra. Já 38% adotaram a diversidade e inclusão em seus programas de remuneração variável. A pesquisa também mostrou que 66% das organizações estão comprometidas em diminuir a disparidade salarial entre gêneros quando exercem a mesma função.

Grupos que sofreram exclusão social ou qualquer outro tipo de discriminação ao longo da história tendem a ter condições inferiores no mercado de trabalho para se equiparar a pessoas de origens que não passaram pelos mesmos problemas. Tal cenário faz com que indivíduos pertencentes a minorias, sejam elas de cor, gênero, sexo, faixa etária ou etnia, ou com baixo nível de acesso à formação acadêmica sejam tratados de forma injusta em processos seletivos, mesmo que isso aconteça como resultado de vieses inconscientes ou por preconceito institucionalizado. Isso acaba por fortalecer ainda mais a desigualdade e a falta de representatividade nas empresas.

Os números díspares são resultado da forma como pessoas menorizadas estão sendo inseridas no mercado de trabalho e de uma imensa falta de ações afirmativas nas empresas, que possam abrir caminhos seguros de desenvolvimento e inclusão.

Dada a importância das práticas de ESG, do compromisso social corporativo e da diversidade no ambiente de trabalho, é imprescindível que o RH assuma seu papel na missão de combate às desigualdades étnicas e de gênero que permeiam o universo corporativo. As ações afirmativas são uma forma tanto de conscientizar as lideranças quanto de acolher colaboradores que necessitam de representatividade.

Os impactos de ações afirmativas no mundo corporativo

No Brasil, as ações afirmativas contam com algumas bases legais. Elas são reforçadas, por exemplo, pela Lei Federal nº 12.288, também conhecida como Estatuto da Igualdade Racial, para questões étnicas e de cor, e pela Lei nº 14.611, que trata de igualdade salarial entre gêneros. Há também a Lei n° 8.213, promulgada em 1991, que determina a reserva de vagas em empresas para pessoas com deficiência (PcD).

Além disso, vale considerar os seguintes dados e informações sobre a população brasileira:

• Pessoas negras e pardas são maioria no país (56%), assim como mulheres (51,5%), mas continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento
• Cerca de 9,3% da população declara pertencer ao grupo de pessoas LGBTQIAPN+
• Até o ano de 2100, espera-se que o número de pessoas com mais de 65 anos corresponda a 40% da população do país
• Há 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, segundo dados do IBGE e MDHC.

Você pode se perguntar: se a população de cor negra e parda é maioria, por que então é considerada uma minoria? Apesar de serem maior em número, tais pessoas foram historicamente menorizadas por terem seus direitos e liberdades restringidos devido ao preconceito, ao racismo e à discriminação sistematizados. Trata-se de uma questão de influência, oportunidade e representatividade.

Ao investir em ações afirmativas, as empresas podem criar oportunidades mais justas, e acolhem profissionais qualificados independente de seu gênero, cor, origem, idade ou sexualidade. É uma atitude de alto impacto que traz melhorias tangíveis para o mundo e promove equidade e justiça social. Como organizações contam com recursos para efetuar mudanças significativas na sociedade, nada mais justo do que usar tal poder de influência para contribuir para uma realidade melhor.

Exemplos de ações afirmativas

É importante lembrar que ações afirmativas não são medidas antidiscriminatórias, mas sim preventivas e reparadoras ao favorecer pessoas que têm sido discriminadas ao longo da história e da formação do país. As políticas antidiscriminação, por outro lado, são maneiras de reprimir quem discrimina ou de conscientizar a população sobre o assunto.

Veja alguns exemplos de ações afirmativas que podem ser implementadas na prática do contexto das empresas:

• Bolsas de estudos e auxílios financeiros
• Cotas em instituições de ensino
• Vagas afirmativas (para grupos específicos de candidatos)
• Programas de desenvolvimento e planos de carreira para talentos de grupos minorizados
• Treinamentos e cursos profissionalizantes para populações jovens
• Programas de estágios voltados para grupos menos favorecidos
• Mentorias e programas de patrocínio (sponsorships)
• Planos de carreira e Planos de Desenvolvimento Individuais (PDI) específicos.

7 passos para estruturar e implementar ações afirmativas em sua empresa

Confira 7 dicas que podem ajudar você na hora de estruturar e implementar ações afirmativas que sejam eficazes e façam sentido no contexto da sua empresa:

1. Analise a estrutura atual da empresa

O primeiro passo ao pensar em ações afirmativas em uma empresa é analisar qual é a realidade atual da organização. Para isso, você precisa observar quais grupos demográficos fazem parte da equipe, quem são os profissionais que ocupam cargos de liderança e qual é o nível de conhecimento das pessoas a respeito de questões como equidade, diversidade e inclusão.

A equipe de RH precisa estar preparada para lidar com tais questões, por isso avaliar o nível de capacitação nesse sentido também é recomendado. Além do mais, é preciso considerar quaisquer medidas, programas e ações já em vigor para promover um ambiente de trabalho saudável, inclusivo e acolhedor.

2. Envolva as lideranças

Para criar ações afirmativas eficazes, o envolvimento e a disposição das lideranças é de vital importância. Os líderes da organização precisam trabalhar a empatia e a conscientização a respeito de questões relacionadas à diversidade e à equidade, de modo que possam desenvolver um maior conhecimento histórico e sociológico. Isso ajuda a reconhecer quaisquer vieses inconscientes existentes e a identificar necessidades de mudança para promover uma real evolução nos aspectos humanos e gerenciais da empresa. Treinamentos voltados para gerentes e cargos executivos são sólidas medidas educacionais para alcançar tais objetivos.

3. Crie ações educativas

As ações educativas não devem se limitar apenas às lideranças. São medidas que precisam chegar a toda a organização. Ao usar dados sobre o mercado de trabalho e iniciativas de conscientização, é possível realizar workshops, palestras e reuniões com temas específicos. Além disso, distribuir materiais educativos e promover campanhas de âmbito geral na empresa também são práticas eficazes.

4. Invista na atração de talentos diversos

Criar programas focados na atração e recrutamento de talentos diversos é uma medida adotada por algumas empresas no mercado. No entanto, é necessário que tais iniciativas levem em consideração as condições oferecidas pelo local de trabalho a tais pessoas. A empresa precisa garantir um ambiente acolhedor e seguro, e não apenas promover campanhas de diversidade para melhorar sua reputação e o employer branding. São medidas que devem ter significado real na vida pessoal e profissional dos colaboradores envolvidos.

Reformular a abordagem de recrutamento e criar processos seletivos mais inclusivos e focados em competências também é uma prática recomendada.

5. Estabeleça programas de desenvolvimento

Programas de desenvolvimento profissional são importantes para garantir oportunidades de evolução e crescimento para todos os membros da equipe, não importa qual sejam suas características particulares. É uma forma de valorizar as pessoas e aumentar a sensação de pertencimento à equipe.

Oferecer acesso igualitário a oportunidades de aprendizado e de progressão na carreira é uma ótima medida para combater a exclusão e a segregação que certas camadas da população podem sofrer. Isso promove equidade e inclusão na empresa, além de contribuir para a retenção de talentos e para o fortalecimento da employee experience.

6. Ofereça espaço para expressão cultural ou religiosa

Colaboradores de diferentes culturas e religiões podem trazer valores e costumes distintos para a empresa. Proporcionar um espaço seguro para que possam expressar tal individualidade também é uma forma de promover um ambiente inclusivo e afirmativo. Certas religiões podem ter feriados diferentes dos oficiais brasileiros ou exigir vestimentas e costumes diários diferenciados, por isso oferecer uma certa flexibilidade para acomodar tais particularidades de cada indivíduo também contribui para a promoção da diversidade.

Outra opção é celebrar ou dar uma certa atenção a datas comemorativas que têm um significado maior para um grupo populacional específico, como o Dia da Consciência Negra ou celebrações voltadas para grupos indígenas regionais.

7. Encare a questão de equidade e diversidade como um processo contínuo

O caminho rumo à equidade no trabalho é uma longa jornada e exige esforços constantes para garantir que cada vitória leve a mais conquistas. Muitos avanços já foram feitos, mas ainda é necessário investir mais. Quando você encara tais questões como um processo contínuo, pode estruturar suas ações de forma estratégica para promover uma cultura corporativa acolhedora e investir na garantia de direitos e liberdades e de justiça social para todos os membros da sua equipe. Isso ajuda a eliminar quaisquer vieses ou preconceitos não intencionais e a combater hábitos e pensamentos societários tóxicos e nocivos.

Bem-estar como parte das ações afirmativas

Uma forma de acolher e melhorar as condições de trabalho da equipe é investir no bem-estar dos colaboradores dentro e fora do horário de trabalho. Programas voltados para a qualidade de vida integral já mostraram ser altamente eficazes e apresentam um alto retorno de investimento. Além disso, tais iniciativas podem contribuir para a melhora dos índices de produtividade e engajamento, satisfação, motivação e retenção de talentos.

Nesse sentido, uma plataforma de bem-estar robusta oferece diversas soluções para atender às necessidades específicas da sua equipe e incrementar os benefícios corporativos oferecidos por sua empresa. Com uma abordagem holística e individualizada, com o Wellhub você pode contar com centenas de estabelecimentos e profissionais espalhados pelo Brasil para fazer uma contribuição real para a saúde e a qualidade de vida dos seus colaboradores. Fale hoje mesmo com um de nossos especialistas em bem-estar e descubra o que podemos oferecer ao seu time.

Referências

• APENAS 15% das empresas estabeleceram metas de redução de desigualdades salariais. Mercado & Consumo, 2023. Disponível em: https://mercadoeconsumo.com.br/26/05/2023/economia/apenas-15-das-empresas-estabeleceram-metas-de-reducao-de-desigualdades-salariais/. Acesso em: 10 de dezembro de 2023.
• BRASIL, Lei nº 12.288, de 20 julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• BRASIL, Lei nº 14.611 de 3 de julho de 2023. 
  Dispõe sobre a igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14611.htm. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• ROCHA, Roseli da Fonseca. Especial O Ministério da Saúde e o PNI | A cor da desigualdade: a Política de Saúde da População Negra. Fiocruz, 2023. Disponível em: https://www.coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/2478-especial-o-ministerio-da-saude-e-o-pni-a-cor-da-desigualdade-a-politica-de-saude-integral-da-populacao-negra.html. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• CARDOSO, Rafael. Censo 2022: mulheres são maioria em todas as regiões pela primeira vez. Agência Brasil, 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-10/censo-2022-mulheres-sao-maioria-em-todas-regioes-pela-primeira-vez. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• CABRAL, Umberlândia. Pessoas pretas e pardas continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento. Agência de Notícias IBGE, 2022. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/35467-pessoas-pretas-e-pardas-continuam-com-menor-acesso-a-emprego-educacao-seguranca-e-saneamento. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• BRASIL tem 9% da população identificada como LGBTQIAP+. Exame, 2022. Disponível em: https://exame.com/brasil/brasil-tem-9-da-populacao-identificada-como-lgbtqiap/. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• PROJEÇÕES indicam aceleração do envelhecimento dos brasileiros até 2100. Ipea, 2021. Disponível: https://portalantigo.ipea.gov.br/agencia/index.php?option=com_content&view=article&id=38577&Itemid=9. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.
• BRASIL tem 18,6 milhões de pessoas com deficiência, indica pesquisa divulgada pelo IBGE e MDHC. Governo Federal, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/brasil-tem-18-6-milhoes-de-pessoas-com-deficiencia-indica-pesquisa-divulgada-pelo-ibge-e-mdhc. Acesso em: 12 de dezembro de 2023.